“Com os LGBT há duas formas de estar, com murmurações ou misericórdia”, afirma o jesuíta James Martin
“Respeito, compaixão e sensibilidade” para com os católicos LGBT, para os resgatar das “sarjetas” da Igreja. Esta é a mensagem do livro de James Martin, Tender un puente, conforme explicou o próprio jesuíta em um vídeo postado nas redes sociais, com a tradução ao espanhol realizada pelo Grupo de Comunicação Loyola.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 30-10-2018. A tradução é do Cepat.
No vídeo, Martin, conhecido defensor da dignidade dos LGBT na Igreja, conta como o massacre de 49 pessoas na casa noturna gay de Orlando, em 2016, deu origem a este ensaio. “Praticamente, a totalidade das vítimas era de pessoas LGBT”, recorda o jesuíta, “mas o que me surpreendeu e me decepcionou foi que, diferente de outras tragédias semelhantes, muito poucos bispos católicos expressaram suas condolências”.
“Era difícil de acreditar”, relata Martin, acrescentando que o silêncio da hierarquia diante desta tragédia lhe deu “a impressão de que, até na hora de morrer, nossos irmãos e irmãs LGBT foram invisíveis”.
É uma invisibilidade, prossegue Martin, que Tender un puente pretende remediar, ao “convidar a Igreja católica a se dirigir às pessoas católicas LGBT com respeito, compaixão e sensibilidade, que são as três virtudes que o Catecismo nos recomenda”. “Também convida os católicos LGBT a tratar a Igreja institucional com essas mesmas virtudes”, aponta o jesuíta, já que “uma boa ponte deve conduzir as pessoas aos dois sentidos”.
Em seu vídeo, Martin se mostra consciente dos ataques que seu livro provocou desde que foi publicado no ano passado. Ataques que lhe acompanham a qualquer ponto ao qual é convidado a falar de seu ministério com as pessoas LGBT, e que quase lhe custou sua participação no Encontro Mundial das Famílias de Dublin.
“É preciso dizer... que o livro se ajusta à doutrina da Igreja, que tem a aprovação expressa de meus superiores jesuítas e que numerosos cardeais, arcebispos e bispos o subscreveram”, ressalta o jesuíta, acrescentando que Tender un puente “já é utilizado em diversas paróquias dos Estados Unidos, em grupos de reflexão paroquial, em universidades e em casas de retiro”. Contudo, não é que o livro seja útil apenas para o estudo, recorda Martin, já que chegou para muitos católicos em nível muito pessoal, “e os mais agradecidos não foram só os católicos LGBT, mas também seus pais e seus avós”.
Outro motivo para Martin para não se preocupar com os ataques ao seu livro e sua pessoa é o apoio do qual goza de “todos” seus superiores jesuítas, além do apoio “da grande maioria do Povo de Deus”. Além disso, o religioso confessa sua convicção de que ser alvo de críticas é parte de sua missão, já que “os católicos LGBT estão certamente nas fronteiras da Igreja e os jesuítas são chamados a trabalhar nas fronteiras, nas periferias”.
No restante de seu vídeo, Martin se dedica a explicar a estrutura de seu livro, que se divide em convites ao diálogo, a oração e o debate em comum para ver “como Deus pode estar nos convidando para nos aproximar” das pessoas LGBT. “Para Jesus não existe ‘o outro’. Não há ‘nós e eles’. Há somente ‘nós’”, explica o jesuíta. E demonstra isto com uma leitura atenta do trecho do Evangelho de Lucas que relata a história de outro marginalizado, Zaqueu, considerado pelos judeus “pecador chefe” por seu trabalho como arrecadador de impostos em Jericó.
Zaqueu, “pequeno de estatura”, subiu em uma figueira porque desejava ver “quem era Jesus”. “E isso é justamente o que as pessoas LGBT desejam: ver ‘quem é Jesus’”, recorda Martin. “E a quem Jesus se dirige? A alguma das autoridades religiosas? A algum de seus discípulos? Não! A Zaqueu!”, explica o jesuíta. “E o que disse a Zaqueu? Disse-lhe: ‘pecador’? Grita-lhe ‘maldito cobrador de impostos’? Não!”. Ao contrário, Jesus pede para ir a sua casa, recorda Martin, naquilo que é um “sinal público de acolhida a alguém que é rejeitado”.
“Oferecer misericórdia a alguém que está nas margens faz com que muita gente se enfureça”, afirma Martin, explicando a referência no Evangelho às “murmurações” das pessoas diante da acolhida que Jesus demonstra a Zaqueu. “Então, parece que diante das pessoas LGBT há duas maneiras de estar”, prossegue, tirando a lição deste relato: “ou você está ao lado da multidão, ou está ao lado de Zaqueu e, o que é mais importante, com Jesus”. E, ao final, é disso que se trata: mostrar “compaixão a todos nossos irmãos e irmãs LGBT, que tanto amamos, no seio da Igreja”.
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